Entre 1972 e 76, o cearense Belchior disparou (regurgitou seria uma expressão mais correta), uma série impecável de cançõe belas e fortes, antenadas com os tempos nublados que se viviam. Ele teve em Elis Regina sua melhor intérprete. Sumido da mídia, Belchior tem os 40 anos de carreira lembrado por alguns dos principais blueseiros do Brasil em Belchior blues, um disco, por enquanto, disponível apenas no formato digital.
Encontrando pontos em comum entre o blues e a música do autor de Como os nossos pais, Big Joe Manfra Blues Band (RJ), Mister Jack (PR), Jefferson Gonçalves e Banda (RJ), Sambè (PE), e Blues Etílico (RJ), e Arthur Menezes (CE), e grande elenco, dão um toques blues a clásssicos como Mucuripe, Medo de avião, Galos noites e quintais, e Apenas um rapaz latino- americano.
Como é comum a este tipo de projeto, ele é pontuado por altos e baixos. Em Paralelas, com a Blues label (CE), por exemplo, a banda está ótima , mas o vocal (bem à frente) lembra cantor de barzinho Um baixo compensado pelo alto: a interpretação de Big Joe Manfra para Velha roupa colorida, bonito o duelo de guitarra e piano na abertura. A música recebeu uma roupagem de boogie que lhe caiu muito bem.
Uma das canções emblemáticas do universo de Belchior é a Palo seco, talvez sua letra mais contundente. A versão em Belchior blues merecia uma voz mais visceral do que a da cantora Luana Dias, acompanhada pela banda de Jefferson Gonçalves (diretor artístico do projeto). Funciona melhor, Galos noites e quintais, com Marcelo Justa (guitarra, violão), Diogo Farias (gaita), ou Sambê com a Blues Etílico, em Mucuripe.
Para se interpretar estas canções tem que se ter em mente que algumas receberam gravações definitivas, sobretudo as que Elis cantou. Taryn Szpilman acerta em Como nossos pais (uma das que tem a marca de Elis). Taryn, que é uma ótima cantora, faz a opção pela emoção, com a qual sobrecarrega a letra carregada de Belchior, uma espécie de hino de uma geração. Mais ou menos o mesmo de Coração selvagem, com uma interpretação visceral dos mineiros de Rodrigo Nésio e Duocondé
Entre erros e acertos, Belchior blues é uma bela e justa homenagem a Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelles Fernandes.
O disco está disponível para download gratuito no link
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